Filme que ganhou 349 prêmios, incluindo 7 Oscars, e levou 100 milhões de pessoas às salas de cinema do mundo todo, no Prime Video Divulgação / Universal Pictures

Filme que ganhou 349 prêmios, incluindo 7 Oscars, e levou 100 milhões de pessoas às salas de cinema do mundo todo, no Prime Video

Christopher Nolan, conhecido por suas obras grandiosas e complexas, trouxe à tela com “Oppenheimer” a fascinante e conturbada história do físico americano responsável pelo desenvolvimento da mais poderosa e destrutiva arma da humanidade. O longa, embora carregado de qualidades inegáveis, não deixa de provocar algumas críticas e reflexões. Em muitos aspectos, a obra se apresenta como previsível, já que o enredo central é amplamente conhecido por grande parte da população mundial.

O filme, com sua longa duração e ritmo cadenciado, demanda paciência do público, que espera ansiosamente pelos momentos mais marcantes e pelo desenlace. Além disso, em certos pontos, a quantidade excessiva de informações torna a experiência um pouco confusa. Contudo, por trás de suas camadas densas de conteúdo, o filme entrega uma poética visual e emocional que permeia os muitos detalhes da vida de Julius Robert Oppenheimer (1904-1967), o gênio por trás da bomba atômica.

Ao lado de Albert Einstein (1879-1955), Oppenheimer se destaca como uma das figuras mais influentes do século 20, e suas contribuições para a ciência foram tão fundamentais quanto as de gigantes como Isaac Newton (1643-1727) e Hendrik Lorentz (1853-1928). O filme de Nolan faz questão de destacar o papel decisivo dessas mentes brilhantes, cujas teorias pavimentaram o caminho para as descobertas de Einstein e, por fim, culminaram no trabalho de Oppenheimer.

Apesar de ser um produto tecnológico avançado, o verdadeiro mérito de “Oppenheimer” não reside apenas em seus efeitos visuais ou na recriação histórica, mas sim nas interações humanas profundamente retratadas. A obra é baseada na biografia escrita por Kai Bird e Martin Jay Sherwin (1937-2021), “Oppenheimer: O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano”, que rendeu aos autores o cobiçado Prêmio Pulitzer. Nolan, ao transpor esse texto fluido para a tela, foca especialmente nos rostos, nas expressões, nas emoções cruas e nas relações pessoais que cercam o protagonista, criando uma atmosfera intensa e imersiva. É por meio dessas interações que a angústia de Oppenheimer, um homem complexo e contraditório, vai se revelando de forma sutil e instigante.

O filme faz um recorte preciso de momentos cruciais da vida do físico, como se o diretor fosse arrastado por uma tempestade cósmica, ilustrada logo no prólogo da obra. Oppenheimer, retratado como uma figura promissora, mas inicialmente desajustada, é mostrado sob uma luz quase trágica — um Prometeu moderno, que ousou trazer o fogo do conhecimento à humanidade, sem pensar nas consequências devastadoras que esse ato poderia ter. A trajetória de Oppenheimer não é a de um gênio predestinado; ao contrário, ele foi um estudante medíocre, que, por meio de persistência e autossuperação, encontrou seu caminho. Essa sensação de deslocamento, tão bem captada por Nolan, é reforçada pelos closes no olhar enigmático de Cillian Murphy, que entrega uma performance magnética e contida, conduzindo o espectador pela mente complexa do físico.

Um dos pontos altos da narrativa é o embate moral de Oppenheimer, representado pelo confronto com a Comissão de Energia Atômica (AEC), que, em 1953, o submeteu a uma série de acusações. Nessas cenas, o preto e branco da fotografia de Hoyte van Hoytema adiciona uma carga emocional ainda maior, separando visualmente os momentos de glória de Oppenheimer de sua queda moral e pública. A transição entre essas fases é magistralmente conduzida por Nolan, que utiliza o formato IMAX para intensificar tanto a grandiosidade dos experimentos nucleares quanto a atmosfera claustrofóbica das audiências públicas.

A dinâmica entre Oppenheimer e o almirante Lewis Strauss, interpretado brilhantemente por Robert Downey Jr., é o verdadeiro eixo emocional do filme. Strauss, que inicialmente apoiava o físico, desenvolve uma aversão crescente por ele, uma tensão que se desenrola ao longo da trama e é fundamental para o desfecho da história. A atuação de Downey Jr. é digna de todos os prêmios que recebeu, incluindo o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, que complementou a vitória de Murphy como Melhor Ator, além dos troféus de Melhor Filme e Melhor Diretor para Nolan.

O filme gira em torno de dois momentos históricos cruciais: o 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia pela Alemanha e a subsequente divisão do átomo, e o dia 21 de dezembro de 1953, quando a AEC formalizou as 34 acusações contra Oppenheimer. Esses marcos históricos moldam a narrativa e destacam o papel essencial do físico no encerramento trágico da Segunda Guerra Mundial, com o lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.

Sem o trabalho de Oppenheimer, a história do mundo poderia ter seguido um curso muito diferente. Entretanto, sua contribuição o condenou ao ostracismo e à incompreensão, levando-o a uma morte precoce em 18 de fevereiro de 1967, aos 62 anos. Seu fim, marcado por um câncer de laringe, pode ser visto como o desfecho amargo de uma vida marcada por escolhas difíceis e pela luta constante entre ciência e moralidade.

“Oppenheimer”não é apenas um filme sobre a criação de uma arma devastadora; é uma reflexão profunda sobre o custo do conhecimento e o preço da ambição. Nolan oferece ao público uma obra densa e repleta de nuances, que, ao mesmo tempo em que exige atenção e paciência, recompensa com uma análise minuciosa das contradições humanas, representadas por uma das figuras mais emblemáticas do século 20.


Filme: Oppenheimer 
Direção: Christopher Nolan  
Ano: 2023 
Gênero: Drama/Suspense 
Nota: 9/10