O épico que faturou 4 bilhões e foi visto por 100 milhões de pessoas desde o lançamento está na Netflix

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A adaptação de jogos eletrônicos para o cinema sempre enfrenta o desafio de equilibrar a fidelidade ao material original com a necessidade de conquistar um público mais amplo. Em “Warcraft — O Primeiro Encontro de Dois Mundos”, o diretor Duncan Jones se esforça para manter a essência do universo do jogo, mas esbarra em escolhas que acabam comprometendo o ritmo da narrativa. Embora a trama tente se manter fiel ao rico universo de “World of Warcraft”, algumas decisões enfraquecem o impacto emocional da obra.

A construção dos personagens, especialmente os orcs — baseados em mitologias do folclore germânico e retratados como antagonistas em guerra contra os humanos —, é tecnicamente fiel aos avatares que habitam o mundo virtual. A equipe de design, liderada por Jeffrey Kaplan, Rob Pardo e Tom Chilton, recria as criaturas com maestria visual, mas o excesso de computação gráfica ofusca as atuações. A riqueza estética, embora impressionante, acaba por limitar o desenvolvimento dramático dos personagens, tornando a experiência mais visual do que narrativa.

O roteiro, assinado por Jones e Charles Leavitt, reconhece o poder imagético da história e desde o início entrega o tom épico. Logo na primeira cena, uma figura solitária surge contra um céu límpido, sinalizando a calma antes da tempestade. A fotografia de Simon Duggan capta esse momento com precisão, destacando o contraste entre o isolamento do personagem e a vastidão do horizonte. A narração em off prepara o terreno para a trama, introduzindo o público ao conflito milenar entre orcs e humanos, enquanto uma força maligna chamada Vileza ameaça corromper Azeroth com magia verde e destruição.

Conforme a história avança, Jones demonstra maior habilidade ao focar nas relações entre os personagens principais. Durotan, interpretado com profundidade por Toby Kebbell, e sua parceira Draka (Anna Galvin) têm diálogos intensos e momentos íntimos que exploram as preocupações de um casal prestes a trazer uma nova vida ao mundo devastado pela guerra. Esses momentos de respiro dramático conferem ao filme um certo peso emocional, que é ampliado pela promessa de um herói futuro, Go’el, o bebê abandonado como Moisés nas águas turbulentas de um rio.

A partir do segundo ato, figuras centrais como Medivh, Lothar e Garona Halforcen, uma mestiça orc, ganham mais espaço. O embate entre o rei Llane Wrynn e os orcs atinge seu auge, e o filme encontra sua maior força na ação coreografada e nos efeitos visuais. No entanto, o excesso de referências ao jogo e a dependência da computação gráfica tornam o filme uma experiência desigual, mais atraente para os olhos do que para o coração.

No fim, “Warcraft” encanta visualmente, mas se perde na superficialidade emocional, entregando mais um espetáculo para os olhos do que para o coração. Para os fãs, é uma imersão nostálgica; para os demais, uma obra de fantasia que, embora grandiosa, carece de alma.


Filme: Warcraft — O Primeiro Encontro de Dois Mundos
Direção: Duncan Jones
Ano: 2016
Gêneros: Ação/Fantasia
Nota: 7/10