Como saber a hora de partir?

Como saber a hora de partir?

Chega o instante em que você tem que decidir sobre o seu destino. Permaneço no meu querido sofá rasgado que já tem a forma do meu corpo ou pego a mochila, umas mudas de roupa, e saio de fininho antes do amanhecer? Todos passam por momentos de decisão, onde um passo pode levar tanto para a glória, quanto para a beira de um abismo.

A sensação que tenho é que, quanto mais amadurecemos, mais precisamos tomar as rédeas da nossa vida. Quando somos crianças sempre existe alguém que decide por nós: o que vamos comer, aonde ir, o que vestir… Com o passar do tempo, o fato de ser pessoa começa a nos cobrar decisões. Vem bem de mansinho e, sem que a gente se dê conta, passamos a decidir com quem nos relacionar, que profissão escolher, fazer um plano de carreira. Vamos pouco a pouco tomando o controle da nossa existência, conduzindo nossos caminhos, até que — num piscar de olhos — somos pilotos de Fórmula 1 disparados na carreira da vida, entre ultrapassagens e colisões, lutando para chegar ao pódio. Você é o piloto, o condutor, que tem a posse da direção. A vida é representada pelo carro. Os seus adversários e companheiros de equipe são as pessoas com quem você interage. Todos buscam a vitória. A vitória afetiva, a vitória profissional, o reconhecimento, a recompensa. Mas, cuidado: o percurso é escorregadio, chuvas torrenciais surgem sem trovoadas. Preste atenção quando houver neblina e tente não se dispersar com a paisagem.

Na vida a gente só muda diante do novo. Livros já lidos, músicas que a letra se sabe de cor, receitas que não precisamos mais espiar… Isso faz parte da nossa essência, do que construímos; são parte de nós e da nossa estrutura como indivíduo. No passado já nos arriscamos ao ler aquele livro, escutar aquela canção e preparar aquela receita.

Na maioria das vezes, o que nos mantém de pé diante das dificuldades não é o que temos, mas, sim, o que queremos ter. Temos quem nos ama, temos amigos. Essas pessoas são pivôs na nossa existência, pilastras que nos ancoram e nos escoram. Gratidão à parte, para exercer o ofício do novo é fundamental arriscar. O que nos faz sair do lugar é exatamente a busca pelo desconhecido, perseguir a melhoria, vislumbrar a mudança. É sonhar.

Como saber que é hora de mudar? Pergunta difícil, cheia de possibilidades. Ir ou ficar? Ir para onde? Esquerda, direita, em frente? Ficar é mais fácil porque não exige nada de nós. Entretanto, é provável que, mais adiante, você terá que conviver com as dores do reumatismo por ter ficado tanto tempo no sofá da vida.

Eu costumo dizer que a hora de soltar as correntes e dar o primeiro passo é justamente quando se sentir incomodado. Atenção à luz amarela do semáforo. Quando ela começar a piscar e você se descobrir enfadado, molestado na situação na qual vive, é hora de mudar o trajeto. O incômodo gera infelicidade, frustração, te sucumbe à sensação de incapacidade. Ele é como a febre que denuncia quando algo vai mal no organismo. É o pisca-alerta da vida. Esse peso faz enxergar que aquilo que andava bem e te fazia feliz, já não te completa mais. O que era bom transformou-se em algo penoso, enfadonho, inoportuno. Chegou a hora de botar mais combustível, trocar o óleo, calibrar os pneus, ou talvez só mudar o trajeto para evitar um acidente de percurso lá na frente.

A vida é sua e ninguém tem o direito de governá-la. Portanto, segure firme o volante. Derrape, mas ultrapasse lá na frente. Esbarre, mas faça a curva com segurança. Tenha precaução em tempos de chuva, mas acelere nas retas quando o sol brilhar!

Karen Curi

é jornalista.